quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Gente tem nome e sobrenome


Nesta janela quero falar sobre a importância de um profissional ter nome e sobrenome. Chico Buarque já cantou que gente tem sobrenome e considero, particularmente, isso importante para a relação profissional, para que comunicações sejam viabilizadas sem ruídos.

Desde que comecei a estagiar na Rádio Globo Recife, percebi que todos da comunicação tinham nome e sobrenome. O forte da emissora era o Esporte e eu, nos meus 19 anos, acompanhava com idolatria os famosos do Escrete de Ouro, que depois migraram para a Rádio Jornal do Commércio: o narrador Ivan Lima e o comentarista José Santana, radialistas experientes e com uma legião de fãs. Meu chefe no jornalismo era Antonio Menezes, pai da jornalista Ana Menezes. Meu nome: Vanda Amorim. O intermediário Maria ficou apenas para preenchimento de documentos.

Nas reportagens na Velha Tribuna da Bahia todos nós tínhamos nomes e sobrenomes. Afinal, o rol de jornalistas cresceu e repetem-se Ana, Adilson José e Fátima, por exemplo. Mas não Ana Guedes, José Olympio e Fátima Danneman. Adilson pode ser o Fonseca ou o Borges. Só de Chico tinha três: Chico Muniz, Chico Araújo e Chico Bina (in memorian)

Ontem, durante a cerimônia de posse dos deputados estaduais que integram a nova legislatura, conheci jovens jornalistas que se apresentaram: Jamile, Paula... Jamile de quê? perguntei. Conheço outras, como Jamile Menezes, com quem trabalhei na Ascom da Defensoria Pública da Bahia. Só quando provocadas se identificaram de forma completa.

Pensei que na faculdade ninguém alertasse para a importância do sobrenome para a identificação do profissional, mas Chico Araújo, experiente jornalista e professor, garantiu que aos seus alunos sempre chamou a atenção para isso.

Mas, porque é importante? Afinal, muitos artistas não usam. Estes substituíram o sobrenome pelo nome da banda ou nome e sobrenome pelo apelido. Mas muitos, os que são mais empreendedores e sabem a força do marketing, não descartam o sobrenome: é Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Chico Buarque, Caetano Veloso.... 

Vamos a uma situação: você é repórter e liga para uma empresa ou órgão público e diz que é Maria, de tal jornal (ou site - mais em moda) e que falar com fulano (a fonte que lhe interessa). A secretária diz que ele não está e anota seu nome e telefone para retorno. Se você ficar esperando a ligação de volta e ela, milagrosamente, acontecer ( nunca espere retorno de fonte; é você que tem interesse na informação, por isso, insista), pode dar chabu se tiver outra Maria na redação e você, na hora, não estiver presente.

O diálogo vai ser mais ou menos assim:
" _ Aqui é de ... e o Sr. fulano quer falar com a repórter Maria."
" _ Qual Maria? Temos duas."- responde quem atender o telefone
"_ Não sei. Ela não me disse o sobrenome".
"_ Então ligue mais tarde porque nenhuma das duas está aqui" - responde o colega pouco interessado em colaborar porque está com o prazo da sua própria matéria apertado.

Pode ser também assim:
" _ Aqui é de ... e o Sr. fulano quer falar com a repórter Maria."
" _ Pode falar. Eu sou Maria"- responde a sua colega Maria
"_ Um momento que vou transferir a ligação"
"_Alô. Você me procurou aqui pra falar sobre .... Diga o que quer saber?" - diz a fonte
"_ Acho que está acontecendo um engano. Quem deve ter lhe procurado foi a Maria Silva. Eu sou Maria Santos"
"_ Posso falar com ela?"
"_ Ela não está no momento".
"_ OK. Diga por favor que eu retornei a ligação. Sou fulano de tal".

E aí seu prazo vai ficar ainda mais apertado e com possibilidade de você não obter a informação naquele dia, porque queimou um cartucho ao não se comunicar bem, ao omitir o seu sobrenome. 

Portanto, um repórter ou outro profissional que queira se comunicar bem, ser lembrado na sua integralidade, deve lembrar que ele tem nome e sobrenome, mesmo que seu sobrenome seja, na verdade, um apelido para compor um "nome de guerra".

4 comentários:

  1. Só agora li esse texto, mas te confirmo que meu ex-professor Chico Araújo sempre alertou sobre isso. Sempre me apresento assim, inclusive já abreviam meu nome, deixando o sobrenome, assim como meus e-mails profissionais: VanaCosta rs....

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  2. Dentre os vários sites que consultei, este me deu a oportunidade "gloriosa" de estar em paz com minha consciência. Meu segundo filho, junto com a esposa "rejeitaram" meu sobrenome para a filha que tiveram. Porquê? Não sei! Sei que partiram meu coração. Não lhes interessa a origem familiar, seus feitos, suas frustrações, atos heroicos de sobrevivência, suas vitórias, alegrias e tristezas (como a minha), que passou a ser contada hoje. Disso tudo faz parte um nome e SOBRENOME. De onde vens, homem? Para onde vais homem? Conte A HISTÓRIA DOS TEUS ANTEPASSADOS....! Lá, não estarei EU!

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    1. Nilton, entendo sua frustração e tristeza. Mas, você sabe que, com exceção dos meus dois irmãos homens e de uma irmãs, todos os outros filhos de meus pais só tem o sobrenome de papai? Não sei porque. Começou com o casamento deles, quando minha mãe, em vez de acrescentar o sobrenome dele, excluiu o da família dela. Ou seja, não tenho Galindo Melo no nome, apesar de ser da família. Um abraço.

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  3. Dentre os vários sites que consultei, este me deu a oportunidade "gloriosa" de estar em paz com minha consciência. Meu segundo filho, junto com a esposa "rejeitaram" meu sobrenome para a filha que tiveram. Porquê? Não sei! Sei que partiram meu coração. Não lhes interessa a origem familiar, seus feitos, suas frustrações, atos heroicos de sobrevivência, suas vitórias, alegrias e tristezas (como a minha), que passou a ser contada hoje. Disso tudo faz parte um nome e SOBRENOME. De onde vens, homem? Para onde vais homem? Conte A HISTÓRIA DOS TEUS ANTEPASSADOS....! Lá, não estarei EU!

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